segunda-feira, 12 de novembro de 2012

estrangeira

Apenas falava ao telefone. Fazia, de certa maneira, uma gentileza ao ir visitar um parente próximo justamente num final de tarde sábado frio e chuvoso. Digo que até orgulhosa estava por saber que a minha presença deixaria o final de semana de alguém menos vazio. Conversávamos ao telefone, em português, apesar da cidadania italiana deste meu relativo, ainda somos e seremos sempre brasileiros. Aparentemente, foi exatamente isso que deu liberdade a um senhor idoso de me linchar.

Como tantos outros italianos, e falo isso ciente da sua veracidade, esse senhor me xingava do banco atrás do meu, sem a capacidade de jogar todo esse ódio bem na minha cara. Eu certamente teria ficado ainda mais sem reação caso tivesse o feito, porém, acredito que de algum modo teria sido mais digno da parte dele. Isso se há qualquer coisa de digno naquele ser humano.

Fiz todo um breve discurso que meu bom senso fez ficar apenas ecoando na minha cabeça. Diria, em suma, que era uma pessoa orgulhosa da sua proveniência e que muito felizmente está na europa para realizar um mestrado, e assim, evitando que eu termine a vida bêbada, num trem, esculachando estrangeiros. Lindo.
Mas eu não disse nada. Desliguei o telefone sem fazer a menor ideia do que escutava e do que dizia. Desliguei e depois de trocar meia palavra, em italiano, com uma moça muito gentil, troquei de cabine com ela.

Até agora a minha vontade é de ir lá falar com esse senhor, mas que sentido isso teria a uma estudante de comunicação para relações internacionais? E mais, além do breve sossego que me concederia no que realmente poderia mudar na minha vida?

NADA. Simplesmente nada.

Não tenho certeza de onde gostaria de chegar com tudo isso. Talvez apenas me certificar de que já posso me orgulhar do meu amadurecimento.