sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

pré natal


Não entrem no mérito de que eu moro na europa. Não pensem que eu moro onde muitos dariam tudo pra poder estar e que muito outros gostariam e não podem, eu, por um booom tempo também não tinha condições disso. Não pensem naquilo que vocês acreditam ser fácil de lidar uma vez que não se está “calçando meus sapatos”.

Nunca fui hipócrita, na verdade sempre fui muito sincera. Nunca disse que a minha vida estivesse sendo ruim, triste, ou depressiva por aqui. Muito pelo contrário, sou a primeira a lembrar de que morar aqui é realmente tão bom quanto pode se pensar.

Não me lembro o por que, talvez porque não houvesse motivo, mas aos meus dez anos decidi que queria escrever uma carta de natal a toda a minha família e que a leria em voz alta antes da ceia. Daquele ano em diante se tornou praxe eu ler alguma coisa antes da janta, todo santo 24/12. Alguns anos depois mudamos algumas coisas nas nossas comemorações de natal, mas eu mantive o meu hábito de escrever. Passei a fazer cartões pra todo mundo que eu gostava. E faço até hoje.

2012 foi um ano do caralho. Não tenho como não descreve-lo senão desta maneira. Foi um dos melhores da minha vida, e que inclusive tinha um certo medo de que começasse, pq achava que não teria como superar o anterior. Hoje nem comparo mais os dois. Se o mundo acabasse de verdade, eu até não ia achar ruim que tivesse sido justo neste ano. Mas esse ano especialmente não vai ter cartões de natal escritos à mão, e não vai ter ceia de natal com pai, mãe, irmão, pé descalço em casa, calor na cozinha de tarde, arrumação de mesa, casa, HOME. Esse ano não vai ter nem qualquer tipo de comida proveniente de frango (caras, perus, chesters e afins SÃO muito natal).

Não me importo (não que eu tenha muitos leitores) em ser tachada de piegas, ou de dar tanta importância pra uma outra data que se tornou ~super comercial e me deus todo mundo só pensa em presentes e gastos e supérfluos~. Não vejo dessa maneira. Ao que sinto, é uma das primeiras grandes rupturas que tenho da minha vida jovem adulto, pra adulto realmente. É ter que lidar em silêncio ou não, com a falta de quem eu queria aqui comigo, ou eu ai com vocês, e até mesmo com um hábito que desde sempre me fez bem. E que eu sempre pensei que pudesse ser tão bom aos outros.

Me alegra que, como dizem alguns, “é só mais um dia” e, então, 24hrs depois já posso voltar a me sentir bem de novo. É só uma “BAD” pré-natal. É só uma falta estratosférica e momentânea dos meus. Vai passar, porque eu também não me permitiria a viver triste morando em milão. 

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

estrangeira

Apenas falava ao telefone. Fazia, de certa maneira, uma gentileza ao ir visitar um parente próximo justamente num final de tarde sábado frio e chuvoso. Digo que até orgulhosa estava por saber que a minha presença deixaria o final de semana de alguém menos vazio. Conversávamos ao telefone, em português, apesar da cidadania italiana deste meu relativo, ainda somos e seremos sempre brasileiros. Aparentemente, foi exatamente isso que deu liberdade a um senhor idoso de me linchar.

Como tantos outros italianos, e falo isso ciente da sua veracidade, esse senhor me xingava do banco atrás do meu, sem a capacidade de jogar todo esse ódio bem na minha cara. Eu certamente teria ficado ainda mais sem reação caso tivesse o feito, porém, acredito que de algum modo teria sido mais digno da parte dele. Isso se há qualquer coisa de digno naquele ser humano.

Fiz todo um breve discurso que meu bom senso fez ficar apenas ecoando na minha cabeça. Diria, em suma, que era uma pessoa orgulhosa da sua proveniência e que muito felizmente está na europa para realizar um mestrado, e assim, evitando que eu termine a vida bêbada, num trem, esculachando estrangeiros. Lindo.
Mas eu não disse nada. Desliguei o telefone sem fazer a menor ideia do que escutava e do que dizia. Desliguei e depois de trocar meia palavra, em italiano, com uma moça muito gentil, troquei de cabine com ela.

Até agora a minha vontade é de ir lá falar com esse senhor, mas que sentido isso teria a uma estudante de comunicação para relações internacionais? E mais, além do breve sossego que me concederia no que realmente poderia mudar na minha vida?

NADA. Simplesmente nada.

Não tenho certeza de onde gostaria de chegar com tudo isso. Talvez apenas me certificar de que já posso me orgulhar do meu amadurecimento.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

saudades, rotina


Foi quando eu disse que deixaria para me preocupar com a saudade depois. Quando eu achei que havia desenvolvido maturidade suficiente para lidar com isso. Foi nisso que quis acreditar ainda que ciente de que se tratava de um boicote a longo prazo.

É bom voltar, não minto que me sinto em casa aqui. Porém, não sou capaz de esconder que, às vezes, o que queria mesmo era não sentir; nem saudades, nem frio. Acontece que há 22 anos optei pela intensidade e nunca foi diferente.

Convivendo com tantos pensamentos incansáveis e distintos tenho buscado uma maneira própria de adestra-los. De me tornar regente do eu que conduz essa cabeça pensante. Não tem sido fácil, parece que estão em local tão longe como da onde vim. Talvez fiquem por lá esta semana, quem sabe ainda na próxima, apesar da pontada de dor por não alcança-los, ao menos sinto e sei que estão bem acompanhados.

Uma das coisas que menos aprecio é o que peço: rotina venha e me coloque no mesmo eixo em que estava há 3 semanas. Ti prego.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

50/50


Deixa o teu país. Vai desbravar o velho continente tu por ti mesmo. Talvez nem tanto, mas vai. Vai lá, te fode, te diverte, vive, te torna gente.

Vai fazer o que 1 milhão já fez e que outros tantos também farão. Tenta ser tão relevante quanto aqueles poucos. Aqueles distantes quase inatingíveis. Por fim, será como tudo na vida. 50/50. Uma questão de escolha. Uma escolha infalível para um futuro incerto.


Va bene cosi. 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A melhor aula de comunicação



Foi dentro de um trem, voltando de Capri para Napoli, que eu tive a minha melhor aula, não só, de comunicação, como já sabido, mas de vida. Voltava acabada e feliz naquele vagão cheio e tão simples quanto os seus passageiros e me obriguei a sentar junto a um grupo de senhores.
A minha diagonal, o que hoje posso chamar de Giuseppe, 65 anos, amigo, professor, ídolo. Ele é a personificação do estereotipo do italiano, e ainda com TODA simpatia e humildade possível. Era impossível não nota-lo. Conversava com todos, sobre tudo, completamente entusiasmado. Ao meu lado, a Virginia, esposa e CHÃO do mestre. Na minha frente o casal de amigos igualmente simpático e a quem devo o agradecimento por ter notado a minha curiosa e envergonhada presença.
Depois de entender pouco, mas parte, das muitas histórias que eles contavam, foi essa senhora que fez o que eu queria TANTO que ela fizesse: falasse comigo.
- Entende o que estamos falando?
- Um pouco...
- És inglesa ou alemã (oi?) ?
- Brasileira
- AAAAAAH, QUE LINDO!
Foi o que bastou. 2 minutos de akward silence depois, me senti na obrigação de tentar falar pro Giuseppe coisa que eu já pensava há tempo:
- Errrrr, com licença senhor, eu gostei muito da tua tatuagem, e queria saber se eu poderia tirar uma foto?
Antes mesmo que ele pudesse desfazer o sorriso e me responder, ouvi em uníssono ao meu lado:
- MAAAAAAAAAAAAAA CHEEEEE, é claro! Se ajeita aí, Giuseppe
Bem mandado, me disse muito empolgado que não tinha problema,. Afastou a bolsa térmica (motivo de piada interna DELES) pro lado e posou. Mostrei a todos e disse pro meu MUSO que tinha visto a tatuagem logo que havia sentado ali, e que achava muito legal que ele tivesse, até pela idade que já tinha. Me contou, com muito orgulho, que a fez contra a religião porque era coisa que ele queria e gostava. Perguntei há quanto tempo ela estava ali: 45 anos, me disse. Depois me mostrou outra que algum dia pareceu o rosto da Virginia, hoje, porém, parece mais um rabisco de caneta Bic.
Eu já estava orgulhosa, enturmada, e disse que tinha tido sorte que eles haviam falado comigo porque eu não teria tido a coragem. E foi aí que o Giuseppe se transformou na lenda que é pra mim:
- Parlare fa bene a il cuore. Quem fala vive, se mantém aceso. Quando não se fala, ou não se tenta falar, o coração murcha.
Depois do que ouvi eu não tenho a menor vergonha de parecer romântica. Eu tinha simplesmente conversado com as mais BUONA GENTI que tinha encontrado até então e tinha recebido ISSO em troca. Eu não queria mais que uma foto, sinto que ganhei anos/vida/experiência – o que for; com os 20 minutos de convivência com essas raridades.
Ali a diante o casal se adiantou a parada do trem e cumprimentou os velhos, e novos, amigos com aquele aperto de mão de reconhecimento. O mesmo aconteceu com a Virginia e o Giuseppe com o adendo de que a Virginia o avisou antes o suficiente para que ele parasse de falar e iniciasse o processo de despedida. Claro que com a prolixidade do rapaz não era coisa rápida.
TUDO ISSO deve ter durado uma meia hora, no máximo. 4h há menos que uma aula na graduação. Mais relevante e inesquecível que quase a totalidade dos 4 anos de jornalismo.
Que eu tenha o ânimo dessa gente quando estiver com essa idade porque pelo que vivi, decidi que em algum momento também vou querer ser professor.

terça-feira, 24 de julho de 2012

não sei se voltei


Adoraria só sentar e escrever, mais ainda não tenho esse dom e, pelo pouco que sei, não terei.
Dizer que tudo pra mim é mais complicado despencar na vala comum. A meu ver tem também certa petulância por se equiparar há um todo que se desconhece.
Já confabulei no mínimo umas 10 vezes antes de dormir. Penso, tenho os melhores insights, sou tomada pelo sono e ponto. Foi pra algum lugar tão incerto e duvidoso quanto o caráter desse texto.
Bem ou mal escrito, apenas me sinto na obrigação de dizer que cheguei, tô aqui, tô longe, perto, tô viva. Graças a isso, achei que seria mais fácil escrever. Inconsequente crença de que tudo na europa (re re) seria mais fácil, inclusive reanimar esse velho moribundo. Não é. Inclusive, não será esse o texto que me garantirá que continuo com o mesmo léxico. Que eu esteja sendo pessimista como sempre, além de enganada.
Tão breve quanto eu resistir ao meu sono, que nunca é pouco, e retorno!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Desatando nós




a meu ver era tudo muito simples. Na verdade, eu sempre acho que deve-se se descomplicar todo e qualquer tipo de situação. E foi por isso que esse meu jeito mezzo libertino - mezzo brasileiro de ver as coisas foi pego de surpresa.


me via contando  a BOA NOVA apenas uma semana antes de acontecer o evento fatídico. assim, todos teriam os mesmo hábitos de sempre, como eu, é claro. Só que não. noto ingenuamente, apenas nesse momento, que me desvencilhar, por um ano que seja, é muito mais delicado.


essa vida adulta a qual fui submetida tem sua parcela de responsabilidade. não tenho mais a liberdade, a responsabilidade, e a capacidade, de colocar um ponto e vírgula no meu cotidiano, na minha vida pessoal, no meu emprego e, bem, ATÉ LOGO. mais do que isso, esse é, ou era, o meu dia-a-dia e que rançosamente tem me deixado sair.


deixar o trabalho tem sido COMPLICADO, deixar minha família e amigos tem sido ao mesmo tempo triste e recompensador. se deixar o seu lugar de origem é inerente ao amadurecimento, a própria despedida também é. Por esse motivo que se torna recompensador. a busca, a procura, e a (talvez aparente) vontade de ter a MINHA companhia nestes dias de espera demosntram que a escolha pelo partir está certíssima, mas as dos que tenho comigo, está mais ainda. não se mensura a falta que farão, mas viverei por todos nós.