Foi dentro de um trem, voltando de Capri para Napoli, que eu
tive a minha melhor aula, não só, de comunicação, como já sabido, mas de vida. Voltava
acabada e feliz naquele vagão cheio e tão simples quanto os seus passageiros e
me obriguei a sentar junto a um grupo de senhores.
A minha diagonal, o que hoje posso chamar de Giuseppe, 65
anos, amigo, professor, ídolo. Ele é a personificação do estereotipo do italiano,
e ainda com TODA simpatia e humildade possível. Era impossível não nota-lo. Conversava
com todos, sobre tudo, completamente entusiasmado. Ao meu lado, a Virginia,
esposa e CHÃO do mestre. Na minha frente o casal de amigos igualmente simpático
e a quem devo o agradecimento por ter notado a minha curiosa e envergonhada
presença.
Depois de entender pouco, mas parte, das muitas histórias
que eles contavam, foi essa senhora que fez o que eu queria TANTO que ela
fizesse: falasse comigo.
- Entende o que estamos falando?
- Um pouco...
- És inglesa ou alemã (oi?) ?
- Brasileira
- AAAAAAH, QUE LINDO!
Foi o que bastou. 2 minutos de akward silence depois, me
senti na obrigação de tentar falar pro Giuseppe coisa que eu já pensava há
tempo:
- Errrrr, com licença senhor, eu gostei muito da tua
tatuagem, e queria saber se eu poderia tirar uma foto?
Antes mesmo que ele pudesse desfazer o sorriso e me
responder, ouvi em uníssono ao meu lado:
- MAAAAAAAAAAAAAA CHEEEEE, é claro! Se ajeita aí, Giuseppe
Bem mandado, me disse muito empolgado que não tinha
problema,. Afastou a bolsa térmica (motivo de piada interna DELES) pro lado e
posou. Mostrei a todos e disse pro meu MUSO que tinha visto a tatuagem logo que
havia sentado ali, e que achava muito legal que ele tivesse, até pela idade que
já tinha. Me contou, com muito orgulho, que a fez contra a religião porque era
coisa que ele queria e gostava. Perguntei há quanto tempo ela estava ali: 45
anos, me disse. Depois me mostrou outra que algum dia pareceu o rosto da
Virginia, hoje, porém, parece mais um rabisco de caneta Bic.
Eu já estava orgulhosa, enturmada, e disse que tinha tido
sorte que eles haviam falado comigo porque eu não teria tido a coragem. E foi aí
que o Giuseppe se transformou na lenda que é pra mim:
- Parlare fa bene a il cuore. Quem fala vive, se mantém
aceso. Quando não se fala, ou não se tenta falar, o coração murcha.
Depois do que ouvi eu não tenho a menor vergonha de parecer
romântica. Eu tinha simplesmente conversado com as mais BUONA GENTI que tinha
encontrado até então e tinha recebido ISSO em troca. Eu não queria mais que uma
foto, sinto que ganhei anos/vida/experiência – o que for; com os 20 minutos de convivência
com essas raridades.
Ali a diante o casal se adiantou a parada do trem e cumprimentou
os velhos, e novos, amigos com aquele aperto de mão de reconhecimento. O mesmo
aconteceu com a Virginia e o Giuseppe com o adendo de que a Virginia o avisou
antes o suficiente para que ele parasse de falar e iniciasse o processo de
despedida. Claro que com a prolixidade do rapaz não era coisa rápida.
TUDO ISSO deve ter durado uma meia hora, no máximo. 4h há
menos que uma aula na graduação. Mais relevante e inesquecível que quase a
totalidade dos 4 anos de jornalismo.
Que eu tenha o ânimo dessa gente quando estiver com essa
idade porque pelo que vivi, decidi que em algum momento também vou querer ser
professor.
olá... vi seu blog atraves do twitter e gostei muito da matéria, parabéns!
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